sábado, 25 de setembro de 2010

Queda do Império e Proclamação da República do Brasil: Um novo olhar historiográfico a partir de 1930

A partir da Proclamação da República em 1889, houve diversas bases explicativas para a queda do Império, assim, as versões se explicavam nas tensões relativas ao Estado e a Igreja, as questões militares e republicanas e a abolição da escravatura, que se antecede em um ano em relação à instauração do regime republicano. Partindo desse pressuposto, o texto visa enfatizar as novas versões que se puseram para a queda do Império a partir da década de 30, se configurando num revisionismo historiográfico apontado por Emília Viotti da Costa em sua obra Da Monarquia à República, logo, o que se discutirá aqui não se baseia num desconstrutivismo historiográfico exacerbado, nem na promoção do significante trabalho da historiadora, mas sim no exercício pleno do ato de fazer História: que compara, estabelece divergências, esmiuça o período histórico e suas fontes, para a partir deste alcançar a objetividade da História em relação a memória que foi construída ao longo do tempo. Em temáticas que envolvem um contexto político exacerbado, uma econômia em transição e uma sociedade em tranformação, toma-se como exemplo a proposta do texto, esse debate é extremamente indispensável para a construção do conhecimento histórico e a consistência da prática reflexiva.

Em 1930 modificaram-se a perspectiva do historiador, devido as tranformações econômicas e sociais ocorridas no mundo e no Brasil nesse período de transição do final do século XIX e na primeira metade do XX. Partindo desse panorama, Emília Viotti discute a queda da Monarquia e o advento da República.

“A partir de 1930, quando se inaugurou um novo período da vida política do país, a história [do Brasil] passou a ser vista de forma inteiramente nova. A crise política de 1929 e a consequênte desorganização da economia cafeeira, suporte do Império e da Primeira República, o processo de industrialização, a urbanização com seu cortejo de influências, a ascensão lenta e progressiva da classe média, a formação do proletariado, os progressos do capitalismo industrial modificaram a perspectiva do historiador.” [VIOTTI, 2008, p. 453]

No olhar tradicional, a questão religiosa tendo em vista a tensão entre Estado e Igreja, é vista como uma das causas do esfacelamento da monarquia devido a influência da religião maçônica do imperador que se choca com a Igreja, quando a instituição ostenta em frear os cultos religiosos que não fossem adeptos do catolicismo. Esse embate do imperador, que desobedece a ordem da instituição religiosa através do beneplácido e das prisões dos bispos, o coloca em “conflito” com a população ocasionando um desgaste em seu governo. No entanto, segundo Viotti as tensões entre Estado e Igreja já vinham ocorrendo desde os tempos da Colônia e que se fosse tão definitiva teria ocasionado a queda da Monarquia num período bem anterior, e ressalta também que a própria Igreja já era dividida, contendo padres e irmãos maçons, adeptos tanto da monarquia quanto do republicanismo.

Nas questões militares com a vitória na Guerra do Paraguai, o exército ganha popularidade, porém não recebe o reconhecimento político que esperava, ocasionando mais um desgaste com o regime imperial. Não obstante, de antemão o exército já vinha entrando em conflito com a monarquia antes da eclosão da Guerra do Paraguai. Assim, não explica fervorosamente a queda do regime. Temos também a questão do republicanismo vigente em 1870, que instituiu o manifesto republicano com o ideal de disseminar o ideário antimonárquico pelo país, porém Viotti elucida que os grupos republicanos eram em parte a minoria -mas a autora não nega sua importância-, dizendo que o partido revolucionário mesmo em menor quantidade, foi capaz de exercer trasformações significativas, mas também não pôde exercer um papel exorbitante no processo aqui discutido.

Por fim, após a abolição da escravatura em 1888, o Império perdeu seus principais aliados: os cafeicultores que dependiam da mão-de-obra escrava para a produtividade de seus cafezais. Viotti aponta que esses fazendeiros respondiam pelos setores menos dinâmicos da sociedade e que em sua minoria não poderam responder pela queda do regime, atém porque o pólo mais dinânimo dos fazendeiros haviam aderido a industrialização.

É sábido que todas as transformações ocasionadas pela industrialização e a consequênte desorganização da economia cafeeira, fez o Brasil mudar sua estrutura rapidamente, e assim como debate Viotti, o Império não soube se articular e preponderar sobre essas questões, nesse caso sim ocasionando seu desgaste em sua estrutura governamental. A abolição da escravatura, por exemplo, veio dar um golpe de morte numa estrutura colonial de produção. A monaqruia não atendia as necessidades do mundo em tranformação, logo, aderir ao novo foi o ato preponderante que se articula com o debate historiográfico que instituiu uma nova formulação para o processo em questão. O historiador Boris Fausto em História do Brasil chega a apontar as tranformações socioeconômicas como origem do novo regime e do advento de novos grupos sociais, mas em seu livro de cunho didático, ainda prevalece a discussão teórica a acerca das temáticas tradicionais apresentadas acima.

COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo: UNESP, 2007.

FAUSTO, Boris. A Regência (1831-1840): A crise do Segundo Reinado. In: História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2009. pp. 217-235.


Fonte da imagem:http://almanaquenoah.blogspot.com/2008/11/monarquia-e-repblica-nas-caricaturas-de.html

Aluna: Valquíria de Oliveira Carvalho, aluna do 6º semestre de História.

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